O som que eu não sei

18 Ago

O som que eu não sei

Eu quis fazer um som, vindo de algum lugar.
Um som que não sei.
Um som que com a minha boca eu não poderia fazer,
Não tinha solfejo, não tinha nota, não tinha nem graça.
Mas eu acordei querendo fazer um som.
Que eu não sei.

Eu quis amar de um jeito que eu não sei.
Quis beijar, abraçar, sair correndo por aí
Contando pro mundo todo
Do meu sonho, do meu som, do meu amor.
Eu quis correr meus dedos pelas cordas
E, das cordas, para as suas costas.
E então o grosso do couro corado do meu dedo
Ia lhe arrancar risadinhas e risadinhas
Num solfejo.

Pronto!

Este é o som, aquele, vindo de algum lugar.
Ele escorre, enquanto eu abraço, beijo, protejo, cuido
“Sejo”.
Enquanto você vem e me olha com olhos cintilantes,
Breves, febris, de uma ressaca de tantos e tantos dias sem mim.

Veja que pretensão, eu, assim, chegando
Vindo do pozinho da fada, saindo pulando de uma sombra
Com meu som, com meu dom, com meu nada.
E já querendo ser motivo da sua risada.

Mas nada disso foi culpa minha!
Veja só!
Foi culpa som.
O som que veio,
Do seu seio,
Som
E meio.

O som que eu não sei, mas agora já sei.
O som da sua risada.
De tocar as cordas do meu instrumento
E tocar as cordas da sua gargalhada
E me afinar no seu corpo
Até ressoar na sua barriga, amiga.

E juntos, enfim, vamos cantar uma canção
Cantada.
De uma voz antes entalada, agora poesia musicada
Um som de balada de coisa que não tem fim.
O som eterno dos seus olhos, dos meus dedos,
Do meu amor
Pela sua risada.

O som que eu não sei

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